Ana Mesias: “A Católica tem uma dinâmica muito própria.”

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Ana Mesias tem 22 anos e é estudante do Mestrado em Engenharia Biomédica da Escola Superior de Biotecnologia. Licenciada em Bioengenharia pela mesma faculdade, garante que sempre soube que queria trabalhar na área da saúde para poder contribuir para o bem-estar das pessoas. Atualmente, vive em Stanford. Ganhou uma bolsa e está a fazer investigação na Universidade de Stanford para a sua tese de mestrado. Uma experiência única, claro, mas também tem saudades de Portugal! Da família, amigos e, claro, da comida.

 

É estudante do Mestrado em Engenharia Biomédica na Escola Superior de Biotecnologia e, atualmente, está na Universidade de Stanford a fazer investigação para a sua tese de mestrado. Como é que surge essa oportunidade?

Estava eu a fazer scroll no Instagram (risos), quando me aparece um anúncio da bolsa Fulbright que dizia “Queres fazer investigação nos Estados Unidos, no âmbito do teu Mestrado?”. Eu fiquei logo interessada e fui explorar. Durante a Licenciatura, eu já queria ter tido uma experiência internacional através do programa Erasmus, mas por causa da pandemia não foi possível. Depois de ver este anúncio, percebi que podia ter aqui uma oportunidade única e candidatei-me.

 

O que é que mais a entusiasmou?

O facto de ir para os Estados Unidos, porque quando pensava em ter uma experiência internacional nunca pensei que seria fora da Europa. Cheguei a Stanford em fevereiro e fico cá até junho. Durante estes meses estou a fazer investigação no departamento de Fisiologia Molecular e Celular, da Faculdade de Medicina, para a minha tese de mestrado.

 

É licenciada em Bioengenharia pela Católica. Porquê escolher esta área para estudar e porquê escolher a Universidade Católica?

No secundário, gostava de biologia, química e matemática. A Bioengenharia liga todas estas áreas. Para além disso, também gostava muito da área da saúde. A Bioengenharia revelou-se uma opção que não me limitava e que me permitia ter em aberto todas estas minhas áreas de interesse. Descobri o curso de Bioengenharia da Católica quando estava a pesquisar cursos na internet. Tropecei no curso e fui explorar mais sobre o plano curricular. Também sabia que a Católica privilegiava muito o contacto próximo entre estudantes e professores e isso pesou muito na minha decisão.

 

O que é que mais a fascinou no curso?

O plano curricular do curso é bastante abrangente e dá as ferramentas e as bases para que depois cada estudante possa construir o seu caminho. No meu caso, como sempre tive um fascínio pela área da saúde, fiquei logo muito interessada no ramo da engenharia biomédica. Cativou-me muito a parte de poder construir dispositivos médicos ou desenvolver compostos que vão responder às necessidades de saúde das pessoas. Comecei a olhar para os materiais e a pensar na forma de os aplicar à saúde.

 

“Dei os meus primeiros passos na Investigação através do Clube dos Investigadores!”

 

Sempre se interessou pela área da saúde?

Desde o início que queria algo ligado à saúde, mas fui tendo essa confirmação ao longo do curso. Quando terminei a licenciatura, soube que queria aprofundar os conhecimentos no mestrado em Engenharia Biomédica.

 

Através da Engenharia Biomédica, que tipo de aplicações médicas é que podem ser desenvolvidas?

Podemos desenvolver algoritmos para fazer análises de imagens de  imagiologia médica ou até o desenvolvimento de próteses. Órgãos transplantáveis produzidos por cultura celular também já começam a ser uma realidade dentro desta área, aliada à medicina regenerativa. É uma área muito abrangente, com muito caminho para percorrer e que pode, realmente, trazer imensos benefícios para a vida das pessoas.

 

O que é que tem sido mais marcante na sua experiência na Universidade Católica?

A proximidade que os alunos têm com os professores e a disponibilidade que os professores têm para nos ajudar. Enquanto aluna, dou muita importância à disponibilidade e ao tempo que os professores têm para nós. É um acompanhamento que ultrapassa o tempo de sala de aula.

 

“O meu grupo de investigação em Stanford foi muito recetivo e foi bastante fácil integrar-me.”

 

A Universidade tem que ultrapassar os limites da sala de aula?

Sim, e a Católica tem uma dinâmica muito própria. A Católica trabalha bastante este lado que vai muito para além da sala de aula. Desde logo, pelas inúmeras atividades que proporciona. Há muitas atividades extracurriculares, grupos e clubes. Por exemplo, eu dei os meus primeiros passos na Investigação através do Clube dos Investigadores!

 

Em que é que consiste?

O Clube dos Investigadores permite que estudantes participem em projetos de investigação do Centro de Biotecnologia e Química Fina. Na licenciatura, os alunos podem, desde o primeiro ano, participar em projetos e começar a perceber em que consiste o mundo da investigação. Podem integrar um projeto de investigação que já existe ou até propor novos projetos. No fundo, através do clube, os alunos podem colocar em prática muitos dos conhecimentos adquiridos em aula e até desenvolver novas competências de laboratório e metodologias de investigação. O Clube dos Investigadores teve um papel muito importante no meu percurso. Eu já tinha o bichinho da investigação e esta iniciativa veio confirmar que o meu caminho era por aqui. Introduziu-me ao pensamento científico e trouxe-me novas perspetivas sobre a investigação.

 

“Viver nos Estados Unidos é completamente diferente de tudo a que eu estava habituada.”

 

Qual é o tema da sua tese de mestrado?

Péptidos bioativos com potencial neuro-protetor em doenças neurodegenerativas. Portanto, estou a estudar péptidos bioativos, que são frações mais pequenas de proteínas. No meu caso, a fonte de proteína que estou a utilizar para extrair estes péptidos é um inseto, nomeadamente o Tenebrio molitor. Esta fonte de proteína já tem vindo a ser estudada por ter biomoléculas bastante interessantes não só nutricionalmente, mas também na área da saúde, com efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, por exemplo. Eu estou precisamente a estudar estas duas propriedades para perceber a capacidade neuro-protetora destes péptidos, com principal foco na doença de Alzheimer.

 

Porque é que a investigação é tão desafiante?

O que me alicia na investigação é o facto de se poder ter impacto na vida das pessoas e de poder trabalhar para tornar algo possível. Na investigação, todos os bocadinhos e todas as pequenas descobertas são importantes. A investigação que faço no meu laboratório pode parecer pequena e insignificante, mas contribui para um quadro comum que pode impactar o mundo e a vida das pessoas. É através da investigação que a Ciência e a Tecnologia podem avançar. A investigação tem esse poder.

 

Como é que tem sido a experiência de viver em Stanford?

Muito positiva, contudo os primeiros dias foram desafiantes, pois foi o imergir numa nova cultura e realidade. Viver nos Estados Unidos é completamente diferente de tudo a que eu estava habituada. Só uma simples ida ao supermercado é diferente! (risos) Mas também a forma de estar na vida, a mentalidade e cultura de trabalho. Viver nos Estados Unidos é muito diferente de viver na Europa, mas isso faz com que esta minha experiência se torne muito mais curiosa, porque estou sempre a descobrir coisas novas e porque estou, verdadeiramente, fora da minha zona de conforto.

 

Como é que foi recebida na Universidade?

O meu grupo de investigação em Stanford foi muito recetivo e foi bastante fácil integrar-me. O grupo é multicultural, o que torna a experiência muito mais rica. Somos só dois europeus no grupo, eu e um holandês. Temos americanos e também um chinês e uma indiana. O campus da Universidade é incrível, grande, mas muito acolhedor e com imensos espaços verdes. Parece uma pequena vila que tem tudo o que precisamos, tem uma parte histórica, onde está a biblioteca, a famosa torre hoover, a igreja, mas também um hospital e até um shopping. É muito pitoresco e bonito. Vou e venho de bicicleta todos os dias. É ótimo passear por aqui, parece sempre que estou no meio de um filme (risos).

 

O que é que mais contrasta com a experiência que tem em Portugal?

O ritmo de trabalho das pessoas é muito acelerado. É impressionante, porque aos fins-de-semana eles vêm para os laboratórios continuar a trabalhar.

 

O que espera retirar desta experiência?

Sem dúvida, a cultura de trabalho deles. Não propriamente o número de horas que trabalham, mas sim o foco que têm na realização de cada tarefa. As reuniões de trabalho são sempre muito objetivas e produtivas. Quero trazer para a minha vida muitas das metodologias de trabalho que usam. A experiência no laboratório está a ser muito enriquecedora, também. Estou a aprender modelos e ferramentas novos. É uma experiência que, sem dúvida, irei pôr em prática quando regressar a Portugal.

 

De que é que tem mais saudades de Portugal?

Tenho saudades da minha família e dos meus amigos. Mas, também, da maravilhosa comida portuguesa (risos)! Dos almoços de domingo e de ter a praia a cinco minutos de distância.

 

O que é que a move?

Poder marcar a vida das pessoas. Não me refiro só ao poder que a Ciência tem, mas refiro-me às coisas pequenas do dia-a-dia. Todos temos o privilégio de marcar a vida dos outros, com um simples olá, um bom dia ou estender a mão para ajudar. Quero estar disponível para os outros. Quero a cada dia melhorar e tentar ser melhor que a minha versão de ontem.

 

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02-05-2024