Miguel Quinta: “Preservar exige um alto rigor e muita paixão.”

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Miguel Quinta tem 21 anos, é natural de Vila Nova de Gaia e é estudante do terceiro ano da Licenciatura em Arte - Conservação e Restauro da Escola das Artes, da Universidade Católica no Porto. É na arte e no mundo natural que se concretiza. O seu desejo? Ser conservador-restaurador de coleções de História Natural. Mas e até lá? Até lá, é o conservador-restaurador da sua coleção de conchas que já reúne mais de duzentas diferentes. Interessado e sempre curioso, Miguel Quinta destaca o ambiente, a proximidade e a grande exigência como os pontos fortes da Universidade Católica. “Levamos daqui uma grande bagagem de conhecimento”, confessa.

 

Quando é que a sua vida se cruza com a Arte?

A minha avó pintava e talvez tenha servido de inspiração. Desde novo que também comecei a pintar e a desenhar. Roubava todas as folhas da impressora (risos), desenhava e pendurava tudo nas paredes.

 

“O curso excedeu todas as minhas expectativas.”

 

Para além disso, também, desenvolveu, desde novo, um gosto pelo mundo Natural …

O mundo Natural sempre me cativou. Em pequeno, os meus pais levavam-me todos os domingos ao Parque Biológico de Gaia. Acho que isso acabou por despertar esta paixão. Nos meus tempos livres, acabei sempre por me dedicar à leitura sobre estes temas: animais, botânica, mineralogia, conquiliologia, alterações climáticas, etc.

 

Quando é que surge a ideia de ingressar no curso de Conservação e Restauro?

Confesso que não tinha muito a ideia de querer ingressar no Ensino Superior, mas há uma determinada altura em que começo a explorar cursos e dou de caras com a licenciatura em Conservação e Restauro. A partir desse momento, comecei a perceber que era neste curso que me revia e que conseguia integrar todas as minhas paixões. Desde logo, o interesse que sempre tive por preservar e guardar coisas. Lembro-me que em criança apanhava bolotas, folhas e outras coisas e guardava dentro de frascos. Já sonhava com o meu próprio museu (risos).  

 

Frequenta, atualmente, o 3º ano da licenciatura. Como tem sido o caminho até aqui?

O curso excedeu todas as minhas expectativas. Tem sido uma descoberta incrível. É uma área que me fascina imenso, essencialmente porque interliga um grande número de diferentes áreas. Nós trabalhamos com Arte, História, Química, Deontologia entre outras. Que outra profissão é que tem este privilégio?

 

“O papel de um conservador-restaurador é preservar a identidade de um povo.”

 

Enquanto estudante da Universidade Católica, que pontos têm sido mais marcantes?

O ambiente é excelente. Há uma relação muito boa entre os professores e os estudantes e o ensino distingue-se por um equilíbrio muito positivo entre a teoria e a prática. Para além disso, há várias atividades que decorrem fora do contexto de aula e que nos desafiam a sair da nossa zona de conforto. São sempre mais oportunidades de desenvolvimento e eu tento agarrá-las, como é exemplo a campanha de inverno que está agora a decorrer. Outro aspeto que destaco é o elevado rigor científico e a grande exigência. Tenho a certeza de que estes aspetos que caracterizam a Católica nos ajudam a criar uma bagagem grande de conhecimento.

 

Considera que a profissão de conservador-restaurador é valorizada em Portugal?

A profissão tem sido mais valorizada, mas tem de ser ainda mais. É um caminho que se está a percorrer… Acho que as pessoas não têm a consciência da importância do trabalho que desenvolvemos.

 

“Não tenho dúvidas de que quero ser conservador-restaurador de Coleções de História Natural.”

 

Qual é a importância da profissão?

O património faz parte da história de um povo. Quando esquecemos o nosso património estamos a esquecer a nossa identidade. O papel de um conservador-restaurador é preservar essa mesma identidade.

 

Quais são os planos quando terminar a licenciatura?

No próximo ano, irei integrar o Mestrado em Conservação e Restauro. Quero continuar a aprender aqui na Católica e quero adquirir ainda mais ferramentas. Quero continuar a investir na área da História Natural e, por isso, vou orientar o meu mestrado para esse fim. Não tenho dúvidas de que quero ser conservador-restaurador de Coleções de História Natural. É a área pela qual sou apaixonado e está, cada vez mais, em crescimento e com necessidade de profissionais especializados. Em Portugal, há muito poucas pessoas especializadas nesta área. Porto, Coimbra e Lisboa são grandes polos de História Natural, têm coleções fantásticas que poucos têm conhecimento da sua existência e consequente riqueza. São precisos profissionais que saibam cuidar delas e conservá-las. Quando falamos de coleções de História Natural falamos de materiais biológicos que servem de investigação para vários cientistas em determinados momentos e, por isso, é uma área que tem muitas especificidades. Preservar exige um alto rigor e muita paixão.

 

Atualmente, também se dedica ao colecionismo. A sua coleção de conchas já integra cerca de 200 espécies diferentes.

É verdade, é fascinante. Tenho-me deparado com espécies fantásticas. O meu objetivo é conseguir reunir o máximo número possível de conchas diferentes e depois criar algo educativo que me permita mostrar a coleção ao mundo através, quem sabe, do meu próprio museu.

 

Que exemplos de espécies é que gostaria de ter para breve na sua coleção?

Neste momento, ando atrás das espécies Charonia tritonis e Conus gloriamaris.

 

É o conservador – restaurador da sua coleção?

Sim, claro. Já aplico nas minhas conchas os métodos de conservação preventiva e quando as adquiro analiso sempre se precisam ou não de alguma intervenção. Para além das conchas, tenho, também, alguns minerais e fósseis, dos quais, também, vou cuidando sempre.  

 

Que museus de História Natural recomendaria?

Recomendo, não só os museus europeus mais conhecidos, que infelizmente ainda não tive o prazer de os conhecer a todos, à exceção do fantástico Museu Nacional de História Natural de Paris, como os mais pequenos e desconhecidos com coleções igualmente relevantes. É o caso do Museu de História Natural de Santiago de Compostela e mesmo a coleção de conchas existente no Museu Marítimo de Ílhavo. São os três imperdíveis.

 

pt
09-02-2023