Católica no Porto celebra o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência

A investigação é o pilar da formação dos nossos estudantes”: Célia Manaia, vice-presidente da Universidade Católica no Porto, não deixa dúvidas. É através da Investigação que a missão da Universidade Católica Portuguesa (UCP) se concretiza.

Celebramos este universo multidisciplinar de investigação, neste Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, dando voz a investigadoras dos centros de investigação da Católica no Porto. Comemorado a 11 de fevereiro, foi criado em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como forma de alertar para a desigualdade de género que penaliza as oportunidades e carreiras das mulheres nos domínios da ciência, da tecnologia e da inovação.

Dar a conhecer o rosto de algumas das nossas investigadoras, bem como a dedicação e o talento que colocam ao serviço da Investigação, é uma forma de promover a igualdade de acesso e oportunidades na Ciência. Os bons exemplos inspiram e transformam.

 

Um campus multidisciplinar

Perdemos a conta ao número de investigadoras que encontramos pelo campus todos os dias. Seja num ou noutro edifício, seja num laboratório ou num gabinete: há investigação a acontecer! O campus do Porto da UCP reúne um conjunto alargado de áreas de investigação. Trata-se de um campus multidisciplinar que agrega as áreas da Biotecnologia, Ciências da Nutrição, Cinema, Conservação e Restauro, Direito, Economia, Educação, Enfermagem, Gestão, Microbiologia, Nutrição, Psicologia, Som e Imagem, e Teologia. Célia Manaia explica que “o facto de existir a reunião de faculdades de áreas de conhecimento diferentes cria uma enorme proximidade entre diversos domínios disciplinares, não só para os investigadores e docentes, mas, também, para os estudantes e parceiros externos.”

A vice-presidente da Católica no Porto explica que a importância maior da Investigação ultrapassa as publicações científicas e patentes: “É uma forma de estar em que o questionamento constante, a procura da verdade, a integridade, a procura de compromissos entre diferentes áreas do saber e o permanente diálogo com a sociedade são a nossa marca de água.

A Investigação é, pois, uma forma de estar que marca de forma profunda a identidade da Universidade.

Conceição Silva, investigadora do Centro de Estudos em Gestão e Economia (CEGE), da Católica Porto Business School, explica que a “Católica oferece através dos seus centros de investigação e através de um grupo de investigadores de qualidade, internacionalmente reconhecida, um ambiente que potencia a investigação.” Este ambiente, aliado ao apoio financeiro, consegue fazer a investigação florescer e ao mesmo tempo promover a qualidade do ensino”, acrescenta.

 

A Investigação como motor do desenvolvimento das comunidades

De que forma é que a Investigação é o ponto de partida para o desenvolvimento das comunidades? Através da Investigação é possível gerar conhecimento e promover a inovação nos mais diferentes setores, promovendo a melhoria da qualidade de vida das pessoas, a proteção da diversidade biológica e dos recursos naturais e fomentar sociedades mais justas e equilibradas.

Mas não basta ter acesso ao conhecimento, porque, como explica Célia Manaia, “é preciso saber como foi gerado, compreendê-lo, ter noção do que significa e em que circunstâncias se aplica. Numa era em que podemos googlar qualquer coisa, em qualquer momento, essa literacia é o motor que promove o desenvolvimento social e económico num contexto de sustentabilidade e respeito pela natureza.”

Célia Manaia afirma, também, que os métodos usados pela ciência “inspiram a forma como nos interrogamos, como olhamos criticamente para os pequenos detalhes do dia-a-dia ou para os grandes desafios com que somos confrontados.” É, por isso, importante “treinar o pensamento e o raciocínio com base nos métodos usados na investigação científica.” Porquê? “Para que se possam fazer escolhas informadas, para que se anulem preconceitos ou para que se consiga analisar uma situação sob os seus múltiplos ângulos”, explica.

Joana Pinho, investigadora do CEGE, conta que, desde pequena, adora estudar, “na tentativa de melhor compreender o mundo.” A investigadora, que se dedica à investigação na área da Economia, explica que, desde a sua dissertação de doutoramento, tem estudado em que medida as características de um mercado o tornam mais competitivo ou, pelo contrário, mais propenso a práticas anti-concorrenciais por parte das empresas. A sua motivação prende-se com a vontade de “contribuir para o desenvolvimento de ferramentas que possam ajudar as Autoridades de Concorrência na promoção do bom funcionamento dos mercados e da defesa dos interesses dos consumidores.”

Marta Rosas, investigadora do Centro de Estudos e Investigação em Direito, afirma que “a investigação jurídica é uma descoberta constante de novos problemas e de possíveis soluções. Implica um diálogo permanente entre o que se passa no mundo e no nosso entorno – já que o Direito visa dar resposta às necessidades concretas das pessoas – e a capacidade de abstração e introspeção que se impõem ao investigador.” Segundo a investigadora, a perseverança e paixão são os dois pilares em que assenta a investigação.

A investigadora explica, também, que "o investigador, procurando respostas para um ou mais problemas que se colocam aos sujeitos jurídicos, vai equacionando as soluções possíveis à luz do sistema e dos seus princípios, testando a robustez das conclusões que logra alcançar. Como o Direito acompanha as mutações da sociedade que visa servir, está sujeito a uma readequação constante que pode implicar, para o investigador, um questionar dos seus pressupostos iniciais."

 

Criatividade, rigor, espírito crítico, tolerância ao erro

Carla Sofia Santos é investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF), da Escola Superior de Biotecnologia, e conta-nos que “é inexplicável o sentimento que a Ciência proporciona quando conseguimos alcançar um objetivo, quando materializamos ideias e vemos na sociedade uma marca do nosso trabalho.” É nesta atividade que se sente realizada, principalmente, porque, “apesar de a Ciência estar associada ao raciocínio lógico”, é uma atividade onde impera a necessidade de “criatividade”.

“É preciso termos uma mente e espírito abertos para conseguirmos imaginar como solucionar determinados problemas e antever matérias e respostas que não existem ainda”, acrescenta.

Também a investigadora Cristina Sá, do Centro de Investigação para a Ciência e Tecnologia das Artes (CITAR), da Escola das Artes, partilhou connosco aquilo que acha que são as características indispensáveis para se ser um investigador completo.

Uma boa investigadora tem de ser tolerante ao erro - mais, tem de se entregar ao erro pois só assim recorta os limites do que está correto”, explica Cristina Sá. “Tem também de negociar uma série de paradoxos: ser focada - não perder a noção dos assuntos periféricos; ser paciente na espera por resultados - cumprir os prazos apertados dos financiadores; ter objetivos firmes - adaptar-se aos objetivos do grupo; ser criativa - preencher formulários respeitando o número de palavras e o tipo de imagens indicado”, acrescenta. Mas é no meio destes paradoxos e destes desafios que a Investigação é fascinante, porque “investigar é nada mais nada menos do que a possibilidade de mudar o mundo!”.

Para Carla Sofia Santos “o rigor, o espírito crítico e a capacidade de gerir eficazmente o tempo são ferramentas essenciais para se conseguir pôr em prática aquilo que é conceptualizado.” Outra característica que destaca é a “capacidade de comunicação”, porque se o resultado de um projeto não for disseminado para diferentes tipos de públicos, o impacto não será alcançado.

Joana Pinho considera que “a curiosidade, a resiliência e o espírito crítico” são indispensáveis. A investigadora alerta, também, que o caminho da investigação é, muitas vezes, sinuoso e desafiante, requerendo, da parte do investigador, a persistência e a confiança na construção de novo conhecimento – ainda que aprenda que o caminho percorrido não é o que leva ao destino pretendido.”

 

O dia-a-dia de uma investigadora

Cristina Sá, na sua investigação, interessa-se, especialmente, pelo papel das artes na transformação social. O seu dia-a-dia é partilhado com as funções de docente que, também, assume. Monotonia ou diversidade ao longo dos dias? “Como tenho vários projetos a decorrer, a própria natureza do trabalho vai mudando a cada dia. Ora faço pesquisa bibliográfica que me permite preparar e fundamentar o subsequente trabalho de campo, ora faço trabalho de campo, ora regresso às leituras para uma rigorosa análise e interpretação dos resultados”. A investigadora explica, também, que o trabalho de campo é muito variado: intervenções artísticas ou criativas na comunidade; curadoria; recolha de dados, observação crítica, entre outros.

Mas, como em todas as profissões, não há bela senão: “Infelizmente, este trabalho implica burocracias pesadas, quer na parte de obter financiamento, quer na parte de libertação ou na justificação de verbas - é a parte que menos gosto do meu dia”.

Luísa Mota Ribeiro é diretora do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH), da Faculdade de Educação e Psicologia, e confessa que o seu dia-a-dia é “recheado de uma grande diversidade de tarefas, de modos de trabalho, de momentos de entusiasmo e persistência.”

Para a investigadora, o seu trabalho constitui uma oportunidade de criar, descobrir, aprender, refletir, contribuir: “Trabalhar em investigação é vibrar com cada questão e com o fervilhar de ideias.

 

Confronto com a ignorância para exceder limites

Conceição Silva, investigadora do CEGE, afirma que o fascínio pela investigação se prende com “o sentimento de descoberta e desafio”. “Quem investiga é desafiado constantemente a exceder os seus próprios limites e é confrontado a cada momento com a sua ignorância. Para mim, esse processo de aprendizagem constante é o que me move”, acrescenta.

A investigação que realiza na área da Economia “tem muito potencial para criar impacto na sociedade e no desenvolvimento humano.” De que forma é que a Investigação transforma o mundo? “A investigação é o motor do mundo e a criatividade o combustível desse motor”, afirma.

Assim celebramos o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência: com os testemunhos de algumas investigadoras da Universidade Católica no Porto que são força viva e real do alcance e do impacto da Investigação.

pt
10-02-2023