Gonçalo Cunha: “A Escola das Artes é liberdade.”

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Gonçalo Cunha tem 23 anos, é do Porto, é licenciado em Som e Imagem pela Católica e é atual estudante do Mestrado em Marketing da Católica Porto Business School: “O meu objetivo é unir o mundo das artes com o marketing e a publicidade.” Insensored é o nome da sua instalação artística que venceu o Edigma Semibreve Scholar 2022 e é com muito fascínio que nos fala sobre o poder da arte e sobre o impacto que quer gerar nas pessoas. Nos tempos livres? Deambular por aí e aprender latim.

 

Insensored é o nome da instalação artística que criou e que venceu o Edigma Semibreve Scholar 2022. Em que é que consistiu este trabalho? 

A instalação Insensored foi o meu projeto final de licenciatura. Esteve exposto no PANORAMA #22 e acabou por vencer o Edigma. Habituada a uma realidade padronizada, a nossa consciência cria um reflexo da arquitetura do visível no seu seguimento ocultado. Esboça-nos uma continuidade simétrica nos campos de visão omitidos. Através desta instalação procurei por à prova essa reconstrução espacial, onde tento provar que a consciência reflete, por vezes, de forma errónea, o que está para lá da nossa perceção visual. À primeira vista quem vê a instalação depara-se com uma face de um cone e acaba por intuir que o que está nas outras faces é o resto do cone. Contudo a parte de trás esconde uma estrutura de 5 metros de comprimento que à primeira vista não é percetível. A fenomenologia e a psicologia interessam-me particularmente e neste trabalho tento explorar estes fenómenos.

 

É licenciado em Som e Imagem pela Universidade Católica no Porto. De onde é que surgiu o seu interesse por esta área?

Desde cedo que tenho a obsessão de documentar toda a minha vida. Andava com a máquina de filmar para a frente e para trás e sempre que começava um vídeo indicava o dia, a hora e os minutos. Eu sabia que no futuro ia querer rever tudo o que tinha vivido. Filmava tudo ao pormenor. Chegava ao ponto de abrir as gavetas para mostrar o que guardava dentro delas (risos).

 

O que é que mais o marcou durante a sua licenciatura?

Acho que aquilo que mais me marcou foi o processo de transformação pelo qual passei. Costumo dizer que passei por uma verdadeira metamorfose na Escola das Artes. Embora tenha começado a licenciatura com a ideia de vir a trabalhar na produção de vídeos, acabei por descobrir o mundo das instalações artísticas e por me aperceber que isto me preenche verdadeiramente. Escolhi estudar Som e Imagem na Escola das Artes porque tinha boas referências de uma amiga minha e também pelo prestígio da Universidade Católica, mas a verdade é que o meu caminho cá dentro acabou por me surpreender imenso. Colocou-me em contacto com um grande leque de oportunidades e permitiu-me construir o meu caminho. Sempre fui muito introvertido nos meus pensamentos, mas desde que cheguei à Escola das Artes que percebi que a minha forma mais abstrata de estar na vida também era compreendida por outras pessoas.

 

“O nosso pensamento é um universo.”

 

Quando é que se dá o ponto de viragem e começa a explorar com grande interesse o mundo das instalações artísticas?

Foi na disciplina de Multimédia II que compreendi que, através da arte, podia expor o meu pensamento. Sempre fui uma pessoa muito explosiva cá dentro e foi nesta disciplina que percebi que podia pegar nos meus pensamentos e reflexões e aplicá-los ao mundo real. Através de uma instalação artística tenho a oportunidade de representar o meu pensamento e a minha ideologia e, para além disso, consigo criar interação e relação com quem a visita.

 

O que é que o inspira?

Dentro da nossa cabeça somos muito maiores do que aquilo que realmente somos. O nosso pensamento é um universo e eu estou sempre a procurar formas de explorar isso. É esta imensidão de pensamentos que me inspira. Através das instalações artísticas eu consigo transportar o meu pensamento para o mundo real. É como se abrisse um bocado do meu universo infinito ao exterior…

 

Que impacto procura gerar nas pessoas?

Olho para a realidade como se ela fosse plasticina. Gosto de moldar a realidade e de explorar isso. Através disto, quero pôr as pessoas a pensar e quero dar-lhes novas perspetivas de realidade. No fundo, levá-las, também, a refletirem sobre si próprias.

 

“O meu objetivo é unir o mundo das artes com o marketing.”

 

Como é que define a Escola das Artes?

A Escola das Artes é liberdade.

 

E sem liberdade não se faz um artista?

Exatamente. Aqui somos livres para criar e para beber diferentes inspirações. Aquilo que mais distingue a Escola das Artes é a dinâmica que aqui se vive. Estamos em contacto permanente com pessoas diferentes e isso é único. Agora posso estar a falar com um realizador, daqui a nada estou a falar com um pintor e logo à tarde com um músico. É única esta dinâmica e as sinergias que aqui se criam! Este é o maior valor da Escola das Artes.

 

“Interesso-me muito pela relação universal que existe entre as coisas.”

 

Ingressou no Mestrado em Marketing na Católica Porto Business School. Porquê esta escolha?

O meu objetivo é unir o mundo das artes com o marketing. Interesso-me muito pela área da publicidade e pelo estudo do comportamento do consumidor. Acho que é muito inovador explorar a intersecção das artes com a publicidade. Acho que esta combinação pode ser explosiva. Estou muito contente com a minha decisão e procuro ganhar mais ferramentas que me abram novos caminhos. Para além disso, sinto-me muito bem na Católica. Os anos da licenciatura passaram a voar e por isso quis prolongar o meu tempo aqui na Católica. Pelo prestígio, pelas pessoas, pelo espaço, pelo ambiente, enfim, é aqui que me sinto, verdadeiramente, bem.

 

O que é que gosta de fazer nos tempos livres?

Para além de gostar muito de livros, de música e de cinema, gosto muito de passear e de caminhar. Gosto de deambular por aí. É sempre um bom momento para refletir, para ter ideias, para explorar o meu pensamento. Em 2016, lembro-me que todos os dias saía a uma hora específica de minha casa para ver o pôr-do-sol enquanto que descia a Avenida da Boavista. Lembro-me que era por volta das 18h36 que o sol se punha e lá ia eu em direção ao mar. Também gosto muito de História, concretamente da Antiguidade Clássica. Tenho uma paixão enorme pela etimologia das palavras, interesso-me muito pela relação universal que existe entre as coisas e isso levou-me a começar a aprender latim durante a quarentena. Tenho o desejo de, até aos 25 anos, saber latim e grego antigo e, também, saber interpretar hieróglifos.

 

Para os 25 já só faltam dois anos …

É verdade (risos). Não é fácil, eu sei. Tenho que me apressar (risos).

 

 

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17-11-2022