Luísa Mota Ribeiro: “Na liderança do Centro de Investigação, sinto um grande espírito de missão.”

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Luísa Mota Ribeiro é docente da Faculdade de Educação e Psicologia (FEP-UCP). É, também, diretora do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH) e co-coordenadora do projeto CApS, que visa a promoção da metodologia Aprendizagem-Serviço (ApS) na Universidade e noutras instituições de ensino superior. Acredita que esta metodologia “marca os estudantes de forma global.” “Conexão” é uma palavra-chave na sua missão enquanto professora e nas suas aulas promove “ambientes seguros” para se aprender. Desejo para os próximos tempos? Ver mais vezes o pôr-do-sol.

 

Quando é que descobre a Psicologia na sua vida?

Sempre estudei música: primeiro foi o piano e depois o canto. Acabei por fazer o conservatório. Em paralelo, também gostava muito da área da Biologia. Estas eram, por isso, as minhas possibilidades quando pensava no meu futuro profissional. A partir do 9.º ano, fui tendo contacto com o psicólogo da escola onde eu estudava, que curiosamente viria a reencontrar na FEP-UCP. Este primeiro contacto com a Psicologia foi muito marcante para mim e acabou por me permitir ir à descoberta desta área.

 

Escolha sobre a qual nunca se arrependeu até hoje …

Ingressei na licenciatura em 1992 e até hoje não houve um momento em que tivesse hesitado. O meu caminho é mesmo este (risos). Uma das coisas que, desde o início, mais me prendeu foi a dimensão de comunicar com as pessoas, de ajudar as pessoas, de fazer dinâmicas de grupo, refletir em conjunto, socializar, estar com outras pessoas e crescer como pessoa em grupo. Diria que foi isto e ainda é isto que me prende à Psicologia.

 

É uma profissão de relação?

Sem dúvida. Atrai-me muito a possibilidade de trabalhar com outras pessoas, podendo contribuir para o seu bem-estar, não propriamente só em alturas de crise, mas sobretudo poder contribuir para a prevenção e para promoção do bem-estar e do desenvolvimento das pessoas. É uma profissão de relação e é isso que me faz sentir, profundamente, identificada.

 

“A minha missão é garantir que o ambiente das minhas aulas é um ambiente, verdadeiramente, seguro.”

 

Como é que hoje as pessoas percecionam a Psicologia em comparação com a altura em que ingressa na sua licenciatura?

Hoje em dia é tudo muito diferente. Quando há trinta anos tomei a decisão de ir estudar Psicologia, recordo-me que houve imensa gente surpreendida: ou porque consideravam que era um curso sem saídas profissionais, ou porque não entendiam o porquê de eu não ir para medicina se tinha boas notas ou simplesmente porque não entendiam a razão da minha escolha. A perceção relativamente à Psicologia é hoje muito diferente. Hoje em dia, olhamos para o Psicólogo, enquanto profissional que trabalha em diferentes dimensões e que acaba por estar em contextos muito diversos. Já não consideramos que os Psicólogos só servem para atuar em situações de crise. A sua ação vai muito para além disso e em grande parte das situações está, precisamente, antes disso. Trabalhamos na prevenção e na promoção do bem-estar e do desenvolvimento.

 

Quando é que vem para a Universidade Católica?

Estou na Faculdade de Educação e Psicologia desde 2004, o ano em que abriu a licenciatura em Psicologia. Tive o privilégio de pertencer à equipa que, desde o início, construiu a licenciatura em Psicologia da FEP-UCP. Fui responsável, logo desde o início, por montar e lançar o serviço comunitário, programa que, ainda hoje, constitui um elemento distintivo da nossa licenciatura. Passados quase 20 anos, o serviço comunitário continua em funcionamento, inclusivamente com a adoção da metodologia aprendizagem-serviço, tendo os alunos o desafio de identificar necessidades num determinado contexto, desenhando, implementando e avaliando um projeto em conjunto com a comunidade.

 

“O serviço comunitário permite que um aluno, logo desde o primeiro ano, ponha os pés no terreno e integre contextos reais.”

 

Porque é que estudar Psicologia na Católica é diferente?

Há várias coisas que nos distinguem. O serviço comunitário, sobre o qual já falamos, é, sem dúvida, um deles. O serviço comunitário permite que um aluno, logo desde o primeiro ano, ponha os pés no terreno e integre contextos reais. Isto tem muito valor. Outra dimensão que nos diferencia é o acompanhamento e a proximidade. Conhecemos os alunos pelo nome e isso faz toda a diferença. O nosso ensino tem uma vertente muito prática, desde logo porque a maioria dos docentes exercem ou exerceram Psicologia e, por isso, trazem muitas experiências e histórias para as aulas e para a relação com os alunos. Para além disto, temos, também, dentro de portas uma clínica de psicologia, a CUP, e também um centro de investigação, o CEDH. Fora da sala de aula, são muitas as oportunidades que os estudantes podem explorar.

 

É diretora do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH), da Faculdade de Educação e Psicologia. Como encara a responsabilidade?

Assumi recentemente a direção do CEDH. Para mim, a palavra que descreve esta nova etapa é “desafio”. Sinto um grande espírito de missão. Quero trazer para o centro de investigação este meu perfil de agregadora, quero trazer este meu lado de escuta e tentar criar conexões entre todos. O nosso Centro foca-se no desenvolvimento humano numa perspetiva multidimensional. Olhamos para o desenvolvimento humano ao longo do ciclo de vida. Temos como objetivo melhorar a cada dia a qualidade da nossa investigação para podermos ser cada vez mais uma referência nacional e internacional. 

 

Enquanto professora, o que é que mais quer transmitir aos seus alunos?

Digo muitas vezes aos meus alunos que só lhes peço uma coisa, nas aulas: só lhes peço que estejam presentes comigo naquela aula. O que mais quero é que estejam presentes verdadeiramente para que possamos partilhar juntos aquele momento. O que mais quero transmitir aos meus alunos é esta presença e esta conexão. Quero que os estudantes se sintam conectados com eles próprios, com o momento presente, com as suas necessidades, emoções e pensamentos e, muito importante, conectados com os outros e com os conteúdos que estamos a abordar. Acima de tudo, é isto que tento transmitir aos meus alunos.

 

“Somos já considerados uma referência europeia na implementação e institucionalização da metodologia Aprendizagem-Serviço.”

 

Como é que isso se ensina?

Desaprendendo. Precisamos de desaprender muitas vezes aquilo que aprendemos. Todos nós temos preconceitos, estereótipos e ideias sobre determinadas coisas. Enquanto estudantes de Psicologia e futuros profissionais, precisamos de nos questionar e de colocar em causa coisas que aprendemos anteriormente. Nas aulas, tento desafiar os meus alunos a desconstruir ideias e a encontrarem novas conceções. Isto só é possível quando os alunos compreendem que o espaço da aula é um contexto seguro. A minha missão é garantir que o ambiente das minhas aulas é um ambiente, verdadeiramente, seguro para desaprender, para questionar, para olhar para novas perspetivas.

 

O que é um ambiente seguro para aprender?

É um ambiente onde professor e alunos podem ser autênticos e onde há espaço para acolher as necessidades e as emoções de cada um dos presentes. É, acima de tudo, um lugar onde nos podemos conectar, verdadeiramente, connosco mesmos, sem medo de sermos julgados.

 

“Mais de 70% dos alunos afirmou que mudou o seu propósito de vida “moderadamente” ou “muito” com o projeto de ApS”

 

É a coordenadora nacional, em conjunto com Carmo Themudo da UDIP, do projeto de implementação da metodologia Aprendizagem-Serviço (ApS) na Universidade Católica Portuguesa.

É um projeto de cariz nacional que está a ser coordenado pela FEP e pela Unidade de Desenvolvimento Integral da Pessoa. Atualmente, a metodologia Aprendizagem-Serviço já está a ser aplicada em todos os campi da UCP. Já estão envolvidas muitas faculdades e mais de 60 docentes. A ambição é que a metodologia seja aplicada ainda em mais unidades curriculares dos ciclos de estudos da UCP. Queremos promover a Aprendizagem-Serviço na nossa Universidade, mas também noutras Universidades. Já temos vindo a ser, inclusivamente, convidados a participar em várias conferências e a dar formação a outras instituições. Somos já considerados uma considerados uma referência europeia na implementação e institucionalização desta metodologia.

 

Que resultados e projetos é que resultaram da aplicação desta metodologia?

Temos muitas histórias que resultam da aplicação desta metodologia e que nos revelam o impacto que isto tem no desenvolvimento dos estudantes. É muito significativo, porque permite aos estudantes estarem em contexto real. Desde um projeto no estabelecimento prisional de Santa Cruz do Bispo que envolveu a prática da pintura por parte dos reclusos, até ao desenvolvimento de um projeto na área do desporto com os utentes do Fórum Sócio-Ocupacional da AFUA e até, também, à criação de uma horta num jardim de infância. São muitas as histórias. Esta metodologia marca os estudantes de uma forma global. Temos feito investigação neste domínio e, no questionário que aplicamos aos estudantes, perguntamos em que medida é que sentem que o seu propósito de vida mudou com o projeto ApS. Mais de 70% dos alunos afirmou que mudou o seu propósito de vida “moderadamente” ou “muito”. É um indicador muito relevante. Os estudantes sentem esse impacto neles próprios, mas a comunidade também. Enquanto universidade católica que somos, temos esta grande ligação à comunidade. Queremos trabalhar em conjunto com a comunidade em prol do bem-estar de todos.

 

Que impacto é que este projeto tem em si?

Sinto um grande alinhamento com este projeto, porque está muito alinhado com o meu propósito de vida pessoal. Sinto-me eu própria neste trabalho. É um projeto que me acrescenta muito.

 

O que é que gosta de fazer nos tempos livres?

Gosto muito de natureza e gosto muito de passear. Praticar yoga, estar com os meus filhos, ouvir música e conviver. Há uns tempos uma colega perguntou-me quais eram as minhas aspirações e eu respondi que queria ver mais vezes o pôr do sol.

 

pt
13-12-2023